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Pesquisa comprova troca enganosa dos genéricos das receitas por similares bonificados

Pesquisa feita em 160 farmácias mostra que beós são empurrados no lugar dos genéricos das receitas

Quase sempre quem vai à farmácia com uma receita para comprar o Dipirona genérica acaba comprando o gato por lebre Dipimed: o beó pode custar o dobro e até o triplo preço do genérico de laboratório que não paga superbônus para favorecer a trocação.

A pesquisa filmada com câmera escondida que comprova o golpe contra a saúde e o bolso dos consumidores envolveu 120 farmácias abrangendo os estados do Paraná, Rio Grande do Sul, São Paulo, Rio de Janeiro e Brasília (veja o resultado).

No entanto, o genéricos mais baratos e de laboratórios que não aparecem no ranking das fraudes não são oferecidos pelos balconistas e farmacêuticos e mesmo quando solicitados quase sempre não são encontrados. As leis que regem a prescrição, dispensação e a intercambialidade de medicamentos no Brasil são bem claras: os remédios genéricos das receitas não podem ser trocados por similares mesmo que sejam comprovadamente intercambiáveis: o genérico da receita só pode ser trocado pelo medicamento de referência ou por genérico de outro laboratório, nunca por um similar de marca, que além de procedência duvidosa ainda pode custar até o triplo do preço do genérico mais barato.

Conforme mostram as gravações, os medicamentos genéricos da receita  na maioria das vezes é trocado de forma enganosa (pois o balconista ou farmacêutico empurram o similar como se fosse genérico) por similar bonificado na maioria das farmácias. Conforme a pesquisa, em 70% das 160 farmácias pesquisadas no Paraná, São Paulo, Rio de Janeiro e Brasília os balconistas e farmacêuticos empurraram similar bonificado no lugar do genérico prescrito pelo médico. O pior é que na maioria dos casos os similares oferecidos chegam a custar até três vezes mais que o genérico mais barato.

Na maioria das farmácias pesquisadas o antibiótico Ampícilina genérico foi troco pelo similar Apicililab: além da procedência duvidosa (a marca pertence ao EMS), o beó custa até três vezes mais o preço do Ampicilina genérico de boa qualidade.

E o Diclofenaco Potássico genérico da receita foi trocado várias vezes pelo similar Clofen S da Cimed: o beó não é genérico e a fórmula não é Diclofenaco Potássico. Os atendentes fazem a troca enganosa apenas para ganhar a propina de 10% para empurrar o produto.

A Lei dos Genérico proibi a troca do genérico por similar (veja pesquisa gravada com câmera escondida) mesmo porque a maioria dos similares existentes no mercado ainda não passaram por testes de bioequivalência e biodisponibilidade (que são testes que comprovam que o medicamento apresentam a mesma composição e fazem o mesmo efeito que os medicamentos de referência). Além do mais, mesmo os similares intercambiáveis (que já apresentaram laudos de supostos testes para a Anvisa) não apresenta na embalagem nenhuma informação da suposta intercambialidade.

Entenda a diferença entre os medicamentos:

Medicamento de referência: Os medicamentos de referência, também conhecidos como “de marca”, são remédios que possuem eficácia terapêutica, segurança e qualidade comprovadas cientificamente no momento do registro, junto à Agência Nacional de Vigilância Sanitária (ANVISA). Os grandes laboratórios farmacêuticos investem anos em pesquisas para desenvolver os medicamentos de referência. Geralmente são medicamentos com novos princípios ativos ou que são novidades no tratamento de doenças. A eficácia e a segurança precisam ser comprovadas mundialmente.

Medicamento genérico: são medicamentos que apresentam o mesmo princípio ativo que um equivalente de referência, ou seja, é uma cópia que se diz “perfeita” ao medicamento original. Na embalagem do remédio genérico tem que ter uma tarja amarela contendo a letra “G” indicativas de que o medicamento é genérico (veja na pesquisa gravada com câmera escondida a prática enganosa onde o genérico é trocado por similares bonificados). Os medicamentos genéricos podem substituir os medicamentos de referência da receita (geralmente são mais baratos) e nunca o similar pode substituir o genérico.

Medicamento similar: os similares são identificados pela marca ou nome comercial e supostamente (a Anvisa não realiza testes nem por amostragem para confirmar a formulação) possuem o princípio ativo, na mesma forma farmacêutica e via de administração dos medicamentos de referência. Também são aprovados pela Anvisa em comparação ao medicamento de referência. De acordo com a regulamentação da Anvisa, os medicamentos similares não podem ser substituídos pelos genéricos quando prescritos pelo médico.

Como não ser enganado na farmácia

A troca indevida e enganosa (quando o paciente não é avisado da troca do genérico por similar) por balconistas e farmacêuticos, como mostra a pesquisa, é prática antiética, desonesta e criminosa (conforme o Códio de Defesa dos Consumidores). Para se proteger, o consumidor paciente deve ficar atento ao comprar o medicamento.

A melhor forma para não ser enganado é o consumidor respeitar a prescrição do médico e não aceitar a substituição. E mesmo que aceite a troca, o paciente deve sempre pesquisar, no caso do medicamento de referência pelo genérico, se o remédio é mais mais barato.  Conforme mostra a pesquisa, a disparidade entre os preços é muito grande (a Ampicilina e por exemplo varia de R$ 19,00 a R$ 44,00, e o preço da Dipirona gotas (todas com 20ml) oferecida durante a realização da pesquisa variou de R$ 1,99 a R$ 10,00.

Desconfiança e pesquisa são melhores remédios

Em se tratando de medicamentos e da saúdo de quem vai utilizá-los, o melhor remédio, sempre, é o consumidor desconfiar dos produtos oferecidos nos balcões de farmácias e pesquisar ao menos em três diferentes estabelecimentos para ter opção de escolha entre preços e qualidade melhores.

Com a saúde não se brinca e o paciente consumidor deve estar sempre consciente de que no Brasil, devido a falta de fiscalização dos órgãos e instituições competentes, cerca de 20% dos medicamentos consumidos são falsificados (OMS) enquanto cerca de outros 20% fabricados por laboratórios conhecidos da Anvisa e testados por laboratórios oficiais são considerados “insatisfatórios” para o consumo.

Para conhecer a idoneidade dos laboratórios, basta analisar as pesquisas do capítulo Ranking das fraudes no livro Farmáfia e recusar marcas de similares e genéricos dos fabricantes reincidentes em fraudes.

As pesquisas foram baseadas nas listas de interdição da Anvisa entre 2007 e 2024, e os laboratórios campeões de venda nas farmácias também ocupam as primeiras posições no ranking das fraudes e dos preços altos, a exemplo do EMS, Prati Donaduzzi e Cimed.

Balconistas e farmacêuticos ganham propina de 10 % para empurrar beó no lugar dos genéricos

Péssimo para os consumidores é que no Brasil o padrão para remuneração de balconistas e farmacêuticos é basicamene por remuneração. E o pior, é que os profissionais ainda são obrigados a bater ou cumprir metas de venda para ganhar bonificação extra. Obviamente que nessa política de bonificação ou propina quem perde são os consumidores (veja vídeo que denuncia o esquema). Risco para a saúde e prejuízo para o bolso do paciente é que a política da empurroterapia e da bonificação faz imperar a enganação nos balcões de farmácias com o favorecimento, pela troca, dos produtos de qualidade e origem duvidosa que pagam  propina maior.

Veja o que disse o gerente de rede de farmácia (o depoimento foi gravado durante investigação para o documentário sobre fraudes no setor farmacêutico) sobre a prática da bonificação: “Tem que empurrar o B.O! É o B.O que dá  lucro!  Desde que seja pra ganhar comissão, eu vendo qualquer coisa! Não interessa quem vai tomar o remédio. Quero que se fodam! São todos uns trouxas!” . 

B.O, sigla de bonificação deu origem ao jargão bom para otário

No jargão de farmácia a sigla B.O é a abreviação do termo ‘bonificado’ e designa os medicamentos que os balconistas favorecem a venda para receber comissão. Entre os balconistas de farmácia B.O tem ainda outros significados bastante pejorativos: significam também “bom para otário” e “bolso de otário”. Isso porque é unanimidade entre os balconistas e farmacêuticos de balcão de farmácia que muitas vezes os remédios bonificados, além de custarem mais que os medicamentos genéricos e da linha ética (outro jargão de farmácia o termo ético designa os remédios receitados pelos médicos e que não pagam propina) ainda têm procedência e qualidade duvidado: sou seja, só compra quem é ludibriado!

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