O Biocinese criado pelo Pratti Donaduzzi para fornecer laudos de equivalência e bioequivalência para a Anvisa funciona em um pequeno prédio da periferia de Toledo
É ético um fabricante de medicamentos manter o seu próprio laboratório para supostamente realizar testes nos seus produtos para elaborar os laudos técnicos exigidos pela Anvisa para obtenção de registros de medicamentos? Pois o Pratti Donaduzzi (um pequeno laboratório paranaense com sede na periferia de Toledo no Oeste do Paraná) possui o próprio laboratório para esse fim: é o Biocinese.
Ético ou não, o Ministério Público do Paraná investiga a relação Pratti versus Biocinese
Embora credenciado na Anvisa (uma instituição genuinamente política num país de política genuinamente corrupta), o Biocinese funciona com estrutura mínima em prédio na periferia do município de Toledo (Oeste do Paraná). O pequeno estabelecimento se parece mais com um laboratório de análises clínicas e não aparenta capacidade física e técnica para realizar os testes de bioequivalência e biodisponibilidade necessários para obtenção de registros e autorização para fabricar medicamentos genéricos e similares intercambiáveis.
Tais exames são caríssimos e exigem sofisticados equipamentos e profissionais capacitados, além de equipes de médicos e enfermeiros necessários para os exames de bioequivalência farmacológica. Já os laudos técnicos (pois a aprovação de registros de medicamentos no país é puramente cartorial e não fazem testes para verificar a qualidade dos produtos existentes no mercado) exigidos pela Anvisa podem ser emitidos por qualquer laboratório de fundo de quintal.
Apesar de pequeno, o Pratti Donaduzzi é um dos campeões em vencer licitações de prefeituras e em interdições da Anvisa
Apesar de pequeno, o Pratti Donaduzzi cresceu mais de dez vezes fomentado pela política de medicamentos genéricos. O laboratório do Oeste do Paraná é um dos campeões em vencer licitações para fornecer remédios genéricos e similares para as prefeituras brasileiras.
Na cópia de e-mail abaixo, a diretoria do Biocinese nega solicitação de entrevista e repassa o pedido à assessora de comunicação do Pratti Donaduzzi, Franciele Felin, que responde por e-mail criado em servidor de rede do mesmo Pratti Donaduzzi: “Recebemos o e-mail da Biocinese sobre o assunto entrevista. A assessoria da Biocinese é a mesma da Pratti Donaduzzi, por este motivo a solicitação nos foi direcionada. Agradecemos o contato, porém não será possível agendarmos a entrevista”.
Anvisa autoriza fabricação de medicamentos apenas com base nos laudos fornecidos pelos laboratórios
A Anvisa confia apenas nos laudos fornecidos pelos próprios laboratórios para registrar os medicamentos. A Anvisa não testes nem periódicos para saber a qualidade dos medicamentos”, condena o coordenador da Sobravime
O médico em saúde coletiva e especialista em políticas farmacêuticas há 30 anos, o coordenador da Sobravime (Sociedade Brasileira de Medicamentos) José Ruben de Alcântara Bonfim condena os métodos utilizados pelo Ministério da Saúde e Anvisa conceder registro para fabricação de medicamentos no Brasil. “As provas iniciais são feitas pelos próprios laboratórios durante a fase do registro na Anvisa. Anvisa apenas confia nos laudos e não teste o produto fabricado antes de ir para a prateleira das farmácias. O que me preocupa muito, e eu tenho pesquisado muito sobre isso e não tenho visto nada, é o fato de o poder público, através do sistema de vigilância sanitária, que compreende a Anvisa como órgão central e as vigilâncias sanitárias estaduais e municipais, não fazerem testes periódicos em amostras para verificar a qualidade dos medicamentos vendidos nas farmácias. E para os testes serem imparciais e funcionarem é óbvio que as amostras analisadas devem recolhidas nas farmácias, não através do fornecimento de laudos durante a fase do registro dos produtos como tem acontecido”.
O Pratti Donaduzzi também é um dos laboratórios brasileiros campeões em interdição pela Anvisa por desvio na qualidade de produção. Em janeiro de 2016, por exemplo, o fabricante de genéricos e similares teve uma lista com mais de 16 remédios interditados por irregularidades na fabricação.